Portanto, estes ritmos; os quais qualquer contemplador da música erudita diria ser o Supra-Sumo da "regressão de audição¹"; são o que vi de mais original na cultura popular de massa do norte do Brasil. Levando-se em conta o que disse José Wisnik na época dos sambas, da bossa nova e jovem guarda: "O uso mais forte de música no Brasil nunca foi o estético-contemplativo, mas o uso ritual, mágico, o uso interessado da festa popular, o canto-de-trabalho, em suma, a música como um instrumento ambiental articulado com outras práticas sociais, a religião, o trabalho e a festa. Com a urbanização e a industrialização, esse uso ganhou uma amplitude ainda maior na caixa de ressonância das grandes cidades²". Não há porque classificar ou comparar qualitativamente uma música ou um ritmo, ainda mais tendo-se como base culturas tão diferentes, o mais racional seria aprecia-las em seus contextos, livrando-se de um preconceito cultural que concluo ainda ser, mesmo que talvez involuntariamente, primitivo e elitista.
Pós-escrito:
Deixo claro que não me isento da função crítica e também sou tendencioso.
¹ Theodor W. Adorno, Sobre el Caracter Fetichista en la Musica y la Regrésion Del Oído, 1966.
² José M. Wisnik, do Ensaio O Minuto e o Milênio ou Por Favor, Professor, Uma Década De Cada Vez publicado no livro "Sem Receita, 2004".
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"Veja que beleza,
Tem diversas cores.
Veja que beleza,
Tem vários sabores.
Veja que beleza,
A burrice está na mesa."
Sabor de Burrice - Tom Zé