sexta-feira, 13 de março de 2009

Indústria cultural regional

Ainda na década de 80, os estados do norte eram culturalmente colonizados pelos sons do Caribe e das Guianas, já que eram de lá as únicas frequências de rádio alcançáveis. Estes ritmos, misturados aos sons tradicionais da região, consequentes do período de desenvolvimento social de décadas anteriores, deram origem a sons como o Calipso, o Carimbó e o Brega. Hoje, sofre influência de sons eletrônicos consequentes da inclusão digital, que dão origem ao Techno-Brega e ao Techno-Melody, os ritmos mais tocados na região norte do país. Com letras de amor, provavelmente influenciadas pelo Reggae por ter descendência afro-caribenha, e batidas que soam como uma releitura das piores músicas eletrônicas dos anos 90, eles carregam a sinceridade da indústria cultural de uma região ainda em processo de desenvolvimento, tendo assim a industrialização um papel importantíssimo na identidade musical local. Para se ter noção, o Superpop, um equipamento de som recém trazido dos Estados Unidos pelo valor de cinco milhões de dólares, é o espetáculo que mais atrai público em suas apresentações.
Portanto, estes ritmos; os quais qualquer contemplador da música erudita diria ser o Supra-Sumo da "
regressão de audição¹"; são o que vi de mais original na cultura popular de massa do norte do Brasil. Levando-se em conta o que disse José Wisnik na época dos sambas, da bossa nova e jovem guarda: "O uso mais forte de música no Brasil nunca foi o estético-contemplativo, mas o uso ritual, mágico, o uso interessado da festa popular, o canto-de-trabalho, em suma, a música como um instrumento ambiental articulado com outras práticas sociais, a religião, o trabalho e a festa. Com a urbanização e a industrialização, esse uso ganhou uma amplitude ainda maior na caixa de ressonância das grandes cidades²". Não há porque classificar ou comparar qualitativamente uma música ou um ritmo, ainda mais tendo-se como base culturas tão diferentes, o mais racional seria aprecia-las em seus contextos, livrando-se de um preconceito cultural que concluo ainda ser, mesmo que talvez involuntariamente, primitivo e elitista.

Pós-escrito:
Deixo claro que não me isento da função crítica e também sou tendencioso.


¹ Theodor W. Adorno, Sobre el Caracter Fetichista en la Musica y la Regrésion Del Oído, 1966.
² José M. Wisnik, do Ensaio O Minuto e o Milênio ou Por Favor, Professor, Uma Década De Cada Vez publicado no livro "Sem Receita, 2004".
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"Veja que beleza,
Tem diversas cores.
Veja que beleza,
Tem vários sabores.
Veja que beleza,
A burrice está na mesa."

Sabor de Burrice - Tom Zé

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