domingo, 24 de outubro de 2010

O que tinha de ser



Se não houvesse o futuro do pretérito, seríamos mais felizes.

Ninguém em sã consciência ousaria:
Relutar sobre fatos do passado; "hipotetizar" o que seria ou o que deixaria de ser se assim não tivesse sido; o que faria se não o tivesse feito; enfim, lamentar-se sobre o que seria e não sobre o que foi.
Entretanto, nosso caráter masoquista nos faria buscar soluções na irrealidade e, para tal, criaríamos tempos verbais condicionais. Neles, mudaríamos o que precisássemos e o pretérito viria a ser mais-que-perfeito!





domingo, 10 de outubro de 2010

Admirável gado novo

Seu prazer é propagar o combate: à fome, às drogas, à desigualdade.
Você adora as políticas assistencialistas e seu discurso pela responsabilidade social é lindo, mas você não faz porra nenhuma por ninguém. Quando muito, você sente pena. Culpa o Estado pela desigualdade, e agradece à Deus por não estar na pele daqueles coitados.
Você não se importa com aquele pivete morrendo pelo crack nem com aquela família de desgraçados morrendo de fome. Você não está nem aí com a criança que passa a infância costurando tênis; com aquela mulher que, depois de passar 8 horas limpando o seu lixo, tem que enfrentar mais 2 horas para chegar em casa e cuidar de uma família inteira; com aquele vagabundo que vasculha, entre porcos e urubus, um resto de comida no meio lixo. É porque na verdade você é como eu e inconscientemente sente prazer com a injustiça social. A sua preocupação com os direitos humanos é só mais uma forma de dominação autoritária.
Você não saiu da caverna para ver a verdadeira realidade, você criou um mundo em sua caverna e quer trazer as sombras para dentro. Você, que acha que a caridade é revolucionária, encare a realidade: o mundo é uma merda, as pessoas são ruins e a vida não vale nada. A grande revolução é não fazer nada. Assuma seu desprezo. Desista desse Estado falho e encare a barbárie.


Seria bom poder acreditar que isso é um exagero.

domingo, 3 de outubro de 2010

O exercício da democracia: malhar os glúteos

Era véspera de eleição quando, sentado atrás de duas belas ninfas, entretive-me com a conversa que descrevo abaixo.

- Vai ser minha primeira vez. Tô super empolgada!
(Curioso, atentei meus ouvidos a bisbilhotar o papo.)
Já até sei pra quem vou dar...
(Neste ponto, os olhos de quem vos fala arregalaram-se e o fluxo sanguíneo passou a fluir unidirecionalmente.)
- Ah que legal, você não tinha conseguido tirar o título nas eleições passadas?
- Nah, é que, tipo assim, pra prefeito eu não gosto de votar, sabe...
(E, unissonamente, "brocharam" meu corpo e minha mente.)

...

A todos aqueles que, como eu, realizaram sua obrigação cívica no dia de hoje, pergunto:
- E aí? Tão com o bumbum durinho?

Saiba mais sobre o autor que não se responsabiliza pelos textos aqui dispostos.